Este bombeiro-enfermeiro constrói à escala os veículos nos quais assiste as vítimas.
Os pais de Francesc Climent (Barcelona, 1982) contam que quando o seu filho ia no carrinho de bebé e ouvia a sirene de uma ambulância ou um carro de bombeiros, a criança atirava-se a ela como quem acredita poder tocar no rastro de uma estrela cadente.

-¿Enfermeiro ou bombeiro?
-Um pouco de tudo! Sou chefe do sector de Saúde dos Bombeiros de Barcelona, el enfermeiro que se encarrega de assistir à vítima em ‘zona de sinistro’. O meu trabalho é estar um passo atrás para o caso de haver vitimas ou risco para os bombeiros.
-¿Desde quando está na corporação?
-Desde 2015. Antes trabalhei no helicóptero do Sistema d'Emergències Mèdiques, no Hospital de Sant Pau (Barcelona) e na ambulância, onde comecei com 17 anos. Sempre gostei disto: a minha mãe é enfermeira e suponho que isso me levou até aí.
-¿Qual foi o serviço que mais lhe marcou?
-Tive um dramático de um rapaz atropelado na La Jonquera que afinal sobreviveu, mas sem duvida o que mais me custou esquecer foi o dos ataques terroristas nas Ramblas, onde fui um dos primeiros intervenientes.
- Explique-me a sua paixão pelo modelismo.
-Comecei por colecionar carros de bombeiros em miniatura com 14 anos: chamava-me a atenção. De coleciona-los passei a repinta-los, modifica-los, procurar pessoas que tivessem documentação para faze-los da forma mais real possível… tenho uma coleção de uns quantos 600, dos quais 200 modifiquei-os ou criei-os eu.
- Imagino que ser bombeiro facilita as cosas.
-Sim claro. Aqui conheci gente com interesse na temática: alguns fazem fotos, outros modelismo… para além de colecionar, trata-se de investigar e mergulhar na historia.
-¿Começa sempre do zero?
-Às vezes sim, com uma placa de plástico ou metal. Outras vezes aproveito partes de uma miniatura e combino-as com as de outra para que se pareça mais ao modelo original. As maquetes são à escala 1:87 as pequenas, e a 1:43 as grandes.
-¿Expõe ao público ou vende?
-Com isto não ganho dinheiro, muito pelo contrário: se começas a ver coisas, és bem capaz de te passar (ri). Normalmente não exponho, mas no ano passado sim levei alguns modelos ao salão AutoRetro de Barcelona, onde os Bombeiros tinham um ‘stand’.
-¿Miniaturiza os carros nos que tem vivências?
-Sim. Tenho os modelos exatos dos helicópteros nos que voei, com a matrícula e tudo igual. Também dos carros de bombeiros: tenho a ambulância na que trabalho, os veículos do meu quartel…inclusive algum colega já me chegou a pedir que lhe faça o seu como lembrança ao reformar-se.
- Interessa-me o ponto em que converte em arte a sua realidade quotidiana.
-Pois o seguinte é fazer dioramas, ou seja, representar cenários concretos. Aí há muito mais que trabalhar. Já pensei em fazer de algum serviço especial, como um que nunca vou esquecer no qual tivemos que apoiar um patim do helicóptero numa rocha e saltar.
-¿Só trabalha com miniaturas?
-Também colaboro na restauração do património histórico dos Bombeiros, como capacetes, carros ou uma bomba de vapor de 86, por exemplo. Através do modelismo conheci a alguns restauradores e quando entrei na corporação inscrevi-me na Agrupación Cultural y Deportiva del Cuerpo de Bomberos de Barcelona. É divertido porque falo com bombeiros veteranos que me explicam as suas batalhas.
in ElPeriódico, no Domingo, 14/01/2018 | Atualizado em 15/01/2018 às 13:42 CET