

Saúde: Projeto para criar equipas de bombeiros-enfermeiros que atuam no terreno pretende diminuir mortalidade e ferimentos entre os soldados da paz
Todos os verões, há notícia de bombeiros feridos em incêndios – só este ano, serão mais de 150.

Porque algumas destas vítimas seriam evitáveis, um grupo de bombeiros-enfermeiros está a desenvolver um projeto para proteger e socorrer bombeiros em pleno teatro de operações até que a emergência médica chegue e possa atuar.
A proposta foi apresentada
Ministério da Administração Interna, no início do ano, mas não avançou.

O modelo já é usado em países europeus, como França e Espanha, e passa pela criação de equipas de bombeiros com formação superior em enfermagem que, pela sua experiência no combate a incêndios e no uso de equipamentos de proteção individual pesados, conseguem chegar onde outros intervenientes, como os profissionais de emergência médica, não devem estar por questões de segurança.

“Por mais louvável que seja esta atitude, não devíamos assistir a imagens com pessoal do INEM de manga curta e sapatilhas a correr monte acima com uma mochila às costas para salvar bombeiros”, explica Nélson Nascimento, presidente do Grupo Nacional de Bombeiros-Enfermeiros (GNBE).
Prevenção de intoxicações

O responsável defende que estas equipas, formadas por dois bombeiros-enfermeiros, seriam as primeiras a atuar nos casos graves, em que é necessário, por exemplo, a desobstrução da via aérea e a estabilização do bombeiro até à chegada da emergência médica e transporte para o hospital. Mas a ideia é também que estejam no terreno, na primeira linha de fogo, a proteger a saúde dos bombeiros, evitando por exemplo intoxicações por inalação de fumo.
Ainda que não haja estatísticas, sabe-se que uma das principais causas de ferimentos e até morte entre os bombeiros é a intoxicação por monóxido de carbono e por cianeto. É aqui que o GNBE quer atuar, avaliando no local os níveis de monóxido de carbono no sangue através da CO-Oximetria de Pulso [ler caixa] e decidindo se devem descansar por alguns momentos e receber oxigénio.
Pormenores:
Lesões podem ser graves
· A concentração de monóxido de carbono pode provocar cefaleias, sensação de falta de ar, alterações visuais, náuseas e fadiga (concentrações inferiores a 40%), confusão, alucinação, ataxia e coma (entre 40 e 60%) e morte para concentrações acima de 60%.
CO-Oxímetro de pulso
· É um aparelho não invasivo que monitoriza os níveis de monóxido de carbono no sangue. Os resultados permitem decidir os tempos de reabilitação, bem como a necessidade de administrar oxigénio. A CO-Oximetria de pulso é defendida pela National Fire Protection Association desde 2015.
As intoxicações por monóxido de carbono provocam sintomas imediatos, como as cefaleias, a perturbação e o cansaço, mas podem também causar lesões neuronais para a vida, explica Mariana Ferreira da Silva, também coordenadora do GNBE.

Os responsáveis, ambos bombeiros-enfermeiros numa corporação do Norte, querem também poder usar no terreno um antídoto para o cianeto (hidroxocobalamina) aprovado pela Agência Europeia do Medicamento e com resultados comprovados na sobrevivência e prevenção de lesões cerebrais.
In Jornal de Notícias, 25 de Agosto de 2017, por Inês Schreck